#EducaQui - A importância da Química para a educação
A importância da Química para a educação
Escrito por: Pedro Lucca Rebello Rodrigues
Por que estudamos química? Para
responder a essa pergunta precisamos entender o que é esta ciência. De acordo
com os dicionários, química é a ciência que estuda a compreensão da composição,
das propriedades e das transformações da matéria. Agora nos perguntamos, para
que estudar a composição, propriedades e transformações da matéria? E você
poderia responder: Deixe isso para os que fazem ciência. Pois bem, concordo com
você, pois a química não é só para os homens e mulheres de jalecos. A ciência a
qual me refiro não é apenas a do laboratório. A matéria está em constante
transformação e as reações acontecem mais em nossas casas do que nas mãos dos
homens de jaleco. Nós estudamos química para entender o que acontece ao nosso
redor e a química das escolas não é somente para formar cientistas, mas
sobretudo para que os cidadãos compreendam, interpretem o mundo, modifiquem a
sua a realidade e, ainda, reconheçam que sem a ciência não teríamos os avanços
tecnológicos, como o desenvolvimento de medicamentos, vacinas, que são de
extrema importância para a atualidade. Mas como a química integrou a educação
no Brasil?
Chassot (1996), uma das maiores
referências para o ensino da química no país, aponta que com a inserção de uma
cadeira de química no curso de engenharia da Academia Real Militar em 1810
houve a introdução do ensino de química no Brasil. Consequentemente, houve um
aumento significativo do número de trabalhadores com mão de obra especializada
nas áreas que necessitavam de um ensino mais voltado para as ciências. Os
objetivos principais do estudo de química nesse período eram práticas e estudos
teóricos ligados à farmácia, agricultura, tinturaria, manufatura do açúcar,
extração das substâncias salinas, extração dos metais dos minérios, construção
dos fornos, entre outros que contribuíam com a economia brasileira.
Já outras fontes, como Porto e Kruger
(2013), apontam que, Dom Pedro II, pensando no desenvolvimento econômico do
Brasil Império, introduziu as tecnologias a favor
da industrialização, assim em 1837, no Colégio Pedro II, a química
passou a compor o currículo científico, porém, como disciplina avulsa, e
somente a partir de 1887 que os conhecimentos das Ciências da Natureza
começaram a ser exigidas para o acesso nos cursos superiores, principalmente no
de medicina mas apenas em 1931, com a reforma educacional Francisco Campos, que
a química passou a compor os currículos do ensino regular, denominada de
disciplina acadêmica, na qual o objetivo principal era formar o estudante com
conhecimentos específicos, despertando assim o interesse pela ciência, bem
como, estabelecendo relações entre ciência e o cotidiano.
Já no Ensino Médio atual, o estudo da
química deve contribuir na formação do estudante não só na aquisição de
conteúdos científicos curriculares, mas deve oportunizar um desenvolvimento
humano que prepare para a ética, para o desenvolvimento da autonomia, do
pensamento crítico e flexível que relacione a teoria com o cotidiano,
fortalecendo o estudante para a construção do seu projeto de vida. Porém, segundo
historiadores, a química no ensino médio oscila entre seu objetivo, sendo este
para as questões cotidianas ou para pressupostos científicos (PARANÁ, s.d.).
Um artigo, publicado por Venquiaruto,
Dallago, Vanzeto e Del Pino (2011) intitulado “Saberes Populares Fazendo-se
Saberes Escolares: Um Estudo Envolvendo a Produção Artesanal do Pão”, fala
sobre a fabricação de pães caseiros e os conhecimentos das pequenas produtoras
do Rio Grande do Sul, neste artigo as produtoras comentam detalhadamente sobre
todo o processo da fabricação destes pães. A química muitas vezes se esconde no
cotidiano de cada um, por exemplo na fala de uma destas das produtoras: “no
verão, o pão cresce bem mais rápido, no inverno, às vezes, demora quase um
dia... Quando é muito frio, se coloca o pão para crescer perto do fogo, dentro
de casa onde não tem corrente de ar frio... (VENQUIARUTO, DALLAGO, VANZETO e
DEL PINO, 2011, p. 136)”. Aqui há um conhecimento, um conhecimento empírico, da
experiência, que diz respeito ao processo, a reação envolvida no preparo da
massa e a temperatura que influencia na velocidade da reação. Nesse sentido, e
o trabalho dos professores de química na sala de aula não é apenas dizer que a
velocidade da reação pode variar de acordo com a temperatura, mas contribuir
para que os educandos consigam ver esta conexão entre o conhecimento
epistemológico, o das escolas, e o cotidiano, de acordo com a realidade social
de cada um.
Da mesma forma temos nossas avós que
fazem sabão caseiro e sabem o processo, pois receberam essa herança do saber,
passada de geração em geração. São muitos conceitos envolvidos, como pH das
substâncias, ácidos e bases, tipos de ligações químicas e estequiometria, até
questões de cunho ambiental, como quais materiais são menos ofensivos ao meio
ambiente e todos podem ser abordados neste contexto social do processo de
fabricação do sabão e também do seu descarte, pois é algo que se integra ao
nosso dia a dia e aos conteúdos de sala de aula, como exemplificado por
Ribeiro, Maia e Wartha (2010).
Na realidade, Saviani (2015) defende
que o ensino deva partir da prática social dos estudantes, compreendida como um
entendimento sincrético da realidade, mas que deve ser selecionado pelo
professor pelo seu potencial de caminhar para uma compreensão sintética dos
problemas sociais, superando a aparência e chegando à essência por meio da
mediação dos conhecimentos científicos. Assim, os conhecimentos científicos e
clássicos seriam centrais, mas intrinsecamente dependentes do seu potencial
para formar cidadãos mais críticos. E para você, como foi a química no ensino
médio? Foi algo que acrescentou para sua vivência do cotidiano?
Referências Bibliográficas:
PARANÁ. Secretaria de Estado da Educação e do Esporte (SEED).
Referencial Curricular para o Novo Ensino Médio Paranaense: Ciências da
Natureza e suas Tecnologias (versão preliminar 2). Curitiba: SEED, s.d.
CHASSOT, A. I. Uma história da educação química brasileira: sobre seu
início discutível apenas a partir dos conquistadores. Epistéme,
v.1, n.2, p. 129-145, 1996.
PORTO, E. A. B.; KRUGER, V. Breve Histórico do Ensino de Química no Brasil. In: Encontro de Debates Sobre o Ensino de Química, 2013, Rio Grande do Sul Rio Grande, 2013, v. 1, n. 33, 2013.
RIBEIRO, E. M. F.; MAIA, J. O.; WARTHA, E. J. As Questões Ambientais e a Química dos Sabões e Detergentes. Química Nova na Escola, v. 32, n. 3, AGOSTO, p. 169-175, 2010.
SAVIANI, D. O conceito dialético de mediação na pedagogia
histórico-crítica em intermediação com a psicologia históricocultural. Germinal:
Marxismo e educação em Debate, v. 7, n.1, p. 26-43, 2015.
VENQUIARUTO, L. D.; DALLAGO, R. M.; VANZETO, J.; DEL PINO, J. C. Saberes
Populares Fazendo-se Saberes Escolares: Um Estudo Envolvendo a Produção
Artesanal do Pão. Química Nova na Escola, v. 33, n. 3, AGOSTO,
p. 135-141, 2011.
Comentários
Postar um comentário