#SocioQuímica - O caso do rompimento da barragem de Brumadinho pode afetar a saúde?
Contaminação
da água:
O caso do rompimento da barragem de Brumadinho pode afetar a saúde?
Escrito por: Thaise Cellão Marocchio
Em
25 de janeiro de 2019, houve o rompimento da barragem da mina Córrego do Feijão
da mineradora Vale em Brumadinho - MG. De acordo com a mineradora, essa
barragem era utilizada para deposição de rejeitos provenientes da produção da
mina. Construída em 1976, a barragem estava inativa, ou seja, não recebia mais
os rejeitos industriais, no entanto, passava pelo processo de desativação,
contendo material mais seco e, em teoria, muito menos propenso ao rompimento do
que uma barragem ativa. Portanto, não foi emitido nenhum tipo de alerta, o que
acarretou cerca de 270 pessoas mortas, sendo que até janeiro de 2020, 11 delas
ainda não haviam sido identificadas.
Com
o rompimento da barragem, além da água se tornar imprópria e sem condições de
uso, há problemas com o abastecimento da água, afetando drasticamente a vida da
população local e as atividades comerciais, como a pesca e a agricultura.
Moradores relatam que a água da torneira ainda continua turva e barrenta, mesmo
um ano após o acidente (NEVES-SILVA e HELLER, 2020). O acesso à água com
qualidade é um dos direitos humanos que deve ser assegurado à população,
conforme descrito no comentário geral nº15 emitido pelo Comitê da ONU para os
Direitos Econômicos, Sociais e Culturais: “O direito humano à água prevê que
todos tenham água suficiente, segura, aceitável, fisicamente acessível e a
preços razoáveis para usos pessoais e domésticos” (CESCR, 2018, p. 353).
A
contaminação da água causada pelo rompimento da barragem se deve a presença de
metais pesados provenientes da mineração. O contato do homem com metais pesados
pode se dar em decorrência de erosões no solo e outras atividades humanas, como
a mineração, sendo estes bioacumulativos, ou seja, o organismo humano não é
capaz de eliminá-lo. Dentre os metais tóxicos principais e os com potencial
toxicidade estão: arsênio, berílio, cádmio, cromo, chumbo, mercúrio, níquel,
cobalto, cobre, ferro, magnésio, manganês, molibdênio, selênio e zinco (PEIXOTO
e ASMUS, 2020). Os autores realizaram um estudo na água do rio Paraopeba após o
ocorrido, verificando um aumento significativo na presença de Manganês (Mn),
Cádmio (Cd), Cromo (Cr) e Mercúrio (Hg), conforme apresentado na tabela abaixo:
Tabela
1: Valores máximos
alcançados por metais pesados acima do permitido.
Fonte:
Poligano e Lemos, 2020, p. 39.
Os
indicadores da qualidade da água, tais como a presença de metais pesados e a
turbidez são parâmetros que atestam se a água está em condições adequadas para
o uso da população. Um
dos aspectos visuais que podem ser observados é a coloração da água, que no
caso do rio Paraopeba adquiriu um aspecto marrom avermelhado, proveniente da
concentração elevada de ferro e manganês.
O
consumo da água contaminada pela população pode causar diversos danos à saúde.
Por exemplo, a ingestão de manganês pode causar rigidez muscular, tremores das
mãos e fraqueza, já a ingestão de cobre pode causar náuseas e vômitos (SOS MATA
ATLÂNTICA). No caso de Brumadinho, foram observadas alterações nas condições de
vida e saúde da população, tais como diarréia, agravo em quadros respiratórios
como falta de ar e bronquite, alergia na pele, doenças transmissíveis
pré-existentes como a febre amarela e a esquistossomose, agravamento de doenças
crônicas como hipertensão, diabetes e insuficiência renal, bem como o aumento de transtornos mentais
como a depressão e a ansiedade (PEIXOTO e ASMUS, 2020).
As
consequências do caso Brumadinho são inestimáveis. Mesmo após um ano do
rompimento da barragem, a Fundação SOS Mata Atlântica analisou a qualidade da
água em 23 pontos nos 356 km do rio Paraopeba entre Brumadinho e Felixlândia,
mostrando que a água ainda continua inadequada para uso da população (SOS MATA
ATLÂNTICA). Os efeitos do caso Brumadinho, não apenas na saúde, mas em
diferentes aspectos socioeconômicos, ainda estão impactando a vida de milhares
de pessoas até hoje. Com o passar do tempo, esses acontecimentos tendem a ser
esquecidos, no entanto, a segurança hídrica e a justiça são direitos humanos
que existem e devem ser lembrados.
Para saber mais:
Vídeo:
SOS Brumadinho e rio Paraopeba - 1 ano depois. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=nATIf38G5v4,
acesso em 16 de abril de 2021.
Vídeo:
SOS Mata Atlântica: Webinar - 2 anos do crime Brumadinho. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=DarmzqBoRzI,
acesso em 16 de abril de 2021.
Referências Bibliográficas:
COMITÊ
DAS ONU SOBRE DIREITOS ECONÔMICOS, SOCIAIS E CULTURAIS (CESCR). Comentário Geral
N.º 15. Disponível em: https://www.defensoria.sp.def.br/dpesp/repositorio/0/Coment%C3%A1rios%20Gerais%20da%20ONU.pdf,
acesso em 16 de abril de 2021.
NEVES-SILVA,
P.; HELLER, L. Rompimento da barragem em Brumadinho e o acesso à água das
comunidades atingidas: um caso de direitos humanos. Cienc. Cult., v. 72, n. 2, São Paulo, 2020. Disponível em: http://cienciaecultura.bvs.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0009-67252020000200013&lng=pt&nrm=iso&tlng=pt,
acesso em 14 de abril de 2021.
PEIXOTO,
S. V.; ASMUS, C. I R. F. O desastre de Brumadinho e os possíveis impactos na
saúde. Cienc. Cult., v. 72, n. 2,
São Paulo, 2020. Disponível em: http://cienciaecultura.bvs.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0009-67252020000200012&lng=pt&nrm=iso&tlng=pt,
acesso em 14 de abril de 2021.
Polignano,
M. V, e Silva, R. L. Rompimento da
barragem da vale em Brumadinho: Impactos socioambientais na bacia do rio
Paraopeba. Cienc. Cult., v. 72, n. 2, São Paulo, 2020, p. 39. Disponível em: http://cienciaecultura.bvs.br/pdf/cic/v72n2/v72n2a11.pdf,
acesso em 14 de abril de 2021.
SOS
MATA ATLÂNTICA. Disponível em: https://www.sosma.org.br/noticias/paraopeba-um-ano-depois/,
acesso em 13 de abril de 2021.
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