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O uso de jogos pedagógicos no ensino da química

Escrito por: Higor Jean Ferreira Neves

Quem nunca teve aquela aula tradicional, em que tínhamos que memorizar e decorar, algum conhecimento de química (ou outra disciplina) com leituras, reproduzindo exercícios, realizando inúmeras cópias de livros ou aquela explicação massante no colégio? Para lidar com essa realidade, alguns autores apontam os benefícios da utilização dos jogos em sala de aula, como possibilidade, pois:

·         favorecem a aprendizagem pelo erro (FREITAS et al., 2019);

·         estimulam a resolução de problemas e a investigação (ALTHAUS; DULLIUS; AMADO, 2016);

·         ajudam ensinar conteúdos científicos em sala de aula (SOARES; MESQUITA, 2021);

·         possibilitam o desenvolvimento sensorial, simbólico, criativo (SOARES; MESQUITA, 2021);

·         proporcionam maior interação e sociabilidade entre os participantes (CUNHA, 2012);

·         brincando há um desenvolvimento intelectual, tais como reflexo corporal, habilidades motoras manuais, entre outras (SOARES, 2008).

Dessa forma para estimular e resgatar o interesse desses alunos pelas aulas de química é fundamental que o professor busque metodologias diferenciadas que o auxiliem no processo de ensino e aprendizagem, sendo os jogos didáticos uma alternativa, pois proporcionam ao aluno uma forma prazerosa e divertida de aprender. 

Segundo Rezende e Soares (2019), um jogo didático/pedagógico pode ser compreendido como um material que apresenta um conjunto de regras, que tem função lúdica, além de auxiliar professores na prática docente e na aprendizagem dos alunos, por isso deve possuir uma função educativa. Assim, um aspecto importante, relatado por Felício (2011) é o equilíbrio entre a função lúdica e a função educativa, pois somente o jogo pelo jogo, pode perder seus fins de aprendizagem.

Apesar das possibilidades e benefícios, como material pedagógico, Soares (2016) afirma que alguns grupos têm despontado no país, preocupados em pesquisar sobre a função educativa dos jogos, mas grande parte do material produzido ainda carece de fundamentação metodológica e teórica. Nesse sentido, Santana e Rezende (2008) afirmam que vários estudiosos da aprendizagem, como Decroly, Piaget, Vigotsky, Elkonin, Huizinga, Dewey, Freinet, Froebel, enfatizam


“a importância que os métodos lúdicos proporcionam à educação de crianças, adolescentes e adultos, pois nos momentos de maior descontração e desinibição, oferecidos pelos jogos, as pessoas se desbloqueiam e descontraem, o que proporciona maior aproximação, uma melhoria na integração e na interação do grupo, facilitando a aprendizagem” (SANTANA; REZENDE, 2008, p. 2).


Para entender, além da importância e do potencial dos jogos didáticos, para a aprendizagem, trouxemos alguns exemplos, que esperamos servir de inspiração para professores e futuros professores ou para quem busca aprender química de uma forma diferente e não quer ficar de fora. O jogo gratuíto “LITTLE ALCHEMY 2”[1] (Figura 01), que é indicado preferencialmente para alunos do 8.º e 9.º ano, tem como principal objetivo completar todos os ítens (um total de 720 diferentes). Para isso, é necessário combinar elementos como fogo, terra, ar e água e construir outras coisas a partir deles, como continentes, planetas ou lama. De forma bem planejada, pelo professor, é possível que, enquanto os alunos se divirtam, aprenda mais sobre a transformação da matéria. Até quantos itens você poderia encontrar?

Figura 01: LITTLE ALCHEMY 2



Fonte: Imagens do aplicativo.

Já o jogo “O SUSPEITO” (ESCAPE ROOM)[2], é indicado para turmas do ensino médio. Nele um jovem (Jhon Cardoso) acaba misteriosamente agredido dentro de seu quarto (Figura 02), e o participante (que é um detetive) tem que resolver o caso dentro de 20 minutos e achar o agressor que é dos integrantes da peculiar família Cardoso.

Figura 02: Imagem do bilhete com marcas de sangue encontrado pelos estudantes.

Fonte: Rezende, Martins e Oliveira (2020, p. 114).

O jogo enfatiza não somente conhecimentos químicos, como pH e soluções, mas matemáticos e geográficos para desvendar as pistas e o caso, que ocorre como uma simulação na escola (Figura 03). Quem será o culpado desse crime? Esse jogo é perfeito para deixar o suspense no ar.

Figura 03: Imagens simuladas do quarto de Jhon.

Fonte: Rezende, Martins e Oliveira (2020, p. 109).

“BANCO QUÍMICO”[3] é inspirado no tabuleiro do jogo Banco Imobiliário® (Figura 04). Nesse jogo, tem-se o intuito de que você/seu grupo seja o vencedor ao acumular mais riquezas, com conquistas de terrenos, que foram adaptados para locais em que a química ou químicos atuam. As companhias do jogo também foram adaptadas com nomes de químicos importantes (Figura 04). No jogo também se utilizam cartas de questões, sobre os conceitos de soluções (que podem ser adaptadas para quaisquer outros conceitos) e que delimitam a possibilidade de construção ou não de casas e outros, desde que acertem a pergunta. Caso não acertem, o professor para o jogo e discute com os alunos sobre a carta. Podem-se unir à festa dos alunos do 2.º do ensino médio e descobrir quem será o próximo "milionário" em conhecimento.

Figura 04: Tabuleiro e carta do jogo Banco Químico.

Fonte: Oliveira, Soares e Vaz (2015, p.287).

Uma emocionante aventura sobre um tabuleiro de química, que discute o contexto histórico da radioatividade, pode ser explorada com o jogo “JORNADA RADIOATIVA”[4] (Figura 05). Esse jogo pode ser aplicado com alunos do 1.º ou 2.º ano do ensino médio. O objetivo deste jogo é ter 1 jogador ou grupo que chegue primeiro à casa FIM e para isso devem ser resolvidas perguntas das casas onde o peão-cientista (Figura 06) estiver situado. As cartas possuem perguntas de diferentes níveis de complexidade (Figura 05).

 

Figura 05: Tabuleiro e cartas do jogo Jornada Radioativa.

Fonte: Sales, Silva, Haraguchi e Souza (2020, p. 79-80).

Figura 06: Peões-cientistas do jogo.

Fonte: Sales, Silva, Haraguchi e Souza (2020, p. 80).

Esses são alguns exemplos, entre vários, disponibilizados em artigos e trabalhos acadêmicos publicados sobre o ensino de química e o uso de jogos. Vários deles, utilizam-se de materiais de baixo custo e podem ser adaptados para a realidade da sala de aula de diferentes escolas, professores e alunos. Basta ter criatividade e sempre pensar nos objetivos educacionais de cada jogo. E aí, você ainda quer ficar de fora dessa realidade, de se divertir aprendendo química?

 

Referências Bibliográficas

ALTHAUS, N.; DULLIUS, M. M.; AMADO, N. M. P. Jogo computacional e resolução de problemas: três estudos de casos. Educ. Matem. Pesq., v.18, n.1, p. 17-42, 2016.

CUNHA, M. B. Jogos no Ensino de Química: Considerações Teóricas para sua Utilização em Sala de Aula.  Química Nova na Escola, v. 34, n. 2, p. 92-98, 2012.

 

FELÍCIO, C. M. Do compromisso à responsabilidade lúdica: ludismo no ensino de Química na formação básica e profissionalizante. Tese de Doutorado. Doutorado em Química - Universidade Federal de Goiás, 2011.

FREITAS, M. R. V.; ANJOS, J. A. L.; CUNHA, K. S.; GUIMARÃES, R. L. Importância da categorização dos erros no processo de ensino e aprendizagem de reações orgânicas a partir do uso de jogo didático. In: XII Encontro Nacional de Pesquisa em Educação em Ciências, Natal, 2019.

 

OLIVEIRA, J. S.; SOARES, M. H. F. B.; VAZ, W. F. Banco Químico: um Jogo de Tabuleiro, Cartas, Dados, Compras e Vendas para o Ensino do Conceito de Soluções. Química Nova na Escola, v. 37, n. 4, p. 285-293, 2015.

 

REZENDE, F. A. M.; MARTINS, L. P.; OLIVEIRA, M.  F. O Suspeito - Escape Room para discutir questões sociais e avaliar a aprendizagem de estudantes da Educação Básica. Revista Eletrônica Ludus Scientiae (RELuS), v. 4, n. 2, p. 105-122, 2020.

 

REZENDE, F. A. M.; SOARES, M. H. F. B. Análise  Teórica  e  Epistemológica  de  Jogos  para  o  Ensino de Química Publicados em Periódicos Científicos. Revista Brasileira de Pesquisa em Educação em Ciências, v.19, p. 747–774, 2019.

 

SALES, M. F.; SILVA, J.  S.; HARAGUCHI, S. K.; SOUZA, G.  A.  P. Jornada Radioativa: um jogo de tabuleiro para o ensino de radioatividade. Revista Eletrônica Ludus Scientiae (RELuS), v. 4, n. 2, p. 74-87, 2020.

 

SANTANA, E. M.; REZENDE, D. B. O Uso de Jogos no ensino e aprendizagem de Química: Uma visão dos alunos do 9º ano do ensino fundamental. In: XIV Encontro Nacional de Ensino de Química, Curitiba, 2008.

 

SOARES, M. H. F. B. Jogos e Atividades Lúdicas no Ensino de Química: Teoria, Métodos e Aplicações. In: XIV Encontro Nacional de Ensino de Química, Curitiba, 2008.

 

SOARES, M. H. F. B. Jogos e Atividades Lúdicas no Ensino de Química: Uma Discussão Teórica Necessária para Novos Avanços. Revista Debates em Ensino de Química, v. 2, n. 2, p. 5-13, 2016.

 

SOARES, M. H. F. B.; MESQUITA, N. A. S. Jogos pedagógicos e suas relações com a cultura lúdica. In: da SILVA, J. F. M. (org.). O lúdico em redes: reflexões e práticas no Ensino de Ciências da Natureza. Porto Alegre, RS: Editora Fi, p. 100-116, 2021.

 

 

 



[1] Link para acesso ao jogo: https://littlealchemy2.com/

[2] Link para acesso ao artigo sobre o jogo: https://revistas.unila.edu.br/relus/article/view/2336/2494

[3] Links para acesso ao artigo sobre o jogo e tabuleiro: http://qnesc.sbq.org.br/online/qnesc37_4/08-RSA-22-13.pdf

www.lequal.com.br

[4] Link para acesso ao artigo sobre o jogo: https://revistas.unila.edu.br/relus/article/view/2307/2498

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