#PIBIDFLIX - Vida de Marie Curie pelo filme Radioactive
ATÉ ONDE VOCÊ
IRIA PELA CIÊNCIA?
Vida de Marie
Curie pelo filme Radioactive
Escrito por:
Lorena Violin de Alcantara
O filme Radioactive, produzido no Reino Unido em
2019 e dirigido por Marjane Satrapi, chegou à plataforma Netflix do Brasil no
dia 15 de abril de 2021 (NETFLIX, s/a) obtendo muito sucesso e chegando ao top
10 durante sua semana de estreia, consequentemente, o mesmo foi alvo de
diversas críticas. Mas o que o filme revela sobre a ciência?
Marie Curie (1867-1934) conduziu as principais
pesquisas sobre radioatividade, descobrindo os elementos rádio, tório e
polônio, sendo a primeira professora mulher na Universidade de Sorbonne, na
França. Também foi a primeira mulher a receber o prêmio Nobel e a única a
ganhar duas vezes em áreas de pesquisas distintas: em 1903, o Nobel de Física
foi dividido com seu marido, Pierre Curie e, em 1911, independentemente, o
prêmio de Química.
Figura 1: Estátua de Marie Curie com o
elemento químico polônio, em Varsóvia.
A importância do trabalho de Marie é
indiscutível no campo da radioatividade, no entanto, o contexto
predominantemente machista da comunidade científica em sua época e todos os
obstáculos sexistas que a cientista teve de enfrentar em sua carreira
acadêmica, nos leva a refletir sobre a questão: Até onde você iria pela
Ciência?
Não é preciso contextualizar as dificuldades que
nós, mulheres, vivemos dentro da sociedade, cada vez mais estamos conquistando
nossos direitos. Marie Curie sofreu repressão pela comunidade científica da sua
época. Utilizando recursos que o filme nos traz, observamos desde a
desvalorização de suas ideias e a privação de recursos para pesquisas, até a
necessidade de seu marido em recusar receber o prêmio Nobel sozinho, para então
reconhecerem os feitos de Marie.
Mesmo com todos os obstáculos obrigando sua
desistência, Marie não desistiu do seu foco de estudo no campo de investigação
da radioatividade. Seu trabalho experimental não se resumia a uma mera busca de
novos elementos radioativos (tório, polônio e rádio), mas a cientista
baseava-se em uma série de hipóteses ainda não fundamentadas, mas que foram
essenciais em estudos posteriores (MARTINS, 2003). Nas palavras de Derossi e
Freitas-Reis (2019, p. 96), “Marie se abalou muitas vezes com as resistências
que lhe foram impostas, indignando-se com o fato de lhe impedirem de fazer o
seu trabalho e contribuir para uma sociedade melhor, através do progresso da
ciência, por motivos sexistas”.
Porque discutir sobre ‘Até onde você iria pela
Ciência’? Porque Marie Curie só obteve o devido reconhecimento pela sociedade
científica após a morte de seu marido. A renomada universidade de Sorbonne só
lhe concede a cadeira de seu falecido esposo após sete meses de busca por um
cientista do sexo masculino, assim, Curie torna-se a primeira mulher a fazer
parte de seu corpo docente (DEROSSI e FREITAS-REIS, 2019). E, infelizmente, seu
óbito foi decorrente da excessiva exposição aos elementos radioativos ao longo
dos anos. Marie e seu marido Pierre foram sepultados juntos, num caixão com uma
camada de chumbo devido a alta intensidade de radiações ainda presentes.
Figura 2: Túmulo
de Marie e Pierre Curie, no Pantheon em Paris.
A segunda mulher a conquistar o prêmio Nobel de
Química foi Irène Joliot-Curie, filha de Marie e Pierre, continuando os estudos
de elementos radioativos como sua mãe. Já a terceira mulher a conquistar o
prêmio foi Dorothy Hodgkin, com suas pesquisas estruturais de moléculas
biológicas. Dois pontos em comum podem ser apontados nas ganhadoras do Nobel:
todas demonstraram precocemente interesse pela ciência, tendo crescido num
ambiente intelectual bastante estimulante, o que demonstra a influência
marcante do meio no despertar das vocações (FARIAS, 2001).
Entre 1901 e 2020, foram atribuídos 603 prêmios.
Destes, 57 prêmios foram para mulheres e apenas oito foram na área científica,
dos quais dois foram atribuídos à Marie Curie (NOBEL, s/a; DEROSSI e
FREITAS-REIS, 2019). Concluímos que é preciso incentivo e apoio às mulheres,
para conquistarmos cada vez mais nosso lugar de respeito não só na ciência, mas
também na política, na economia, e em todas as áreas da sociedade.
Para isso, existem programas voltados totalmente
ou parcialmente a essa perspectiva. Um exemplo são as Ações Marie Sklodowska-Curie (MSCA), um programa financiado pela
União Europeia que concede bolsas para pesquisadores e incentivam a mobilidade
transnacional, intersetorial e interdisciplinar, além de estimular uma maior
participação de mulheres na ciência (EUROPEAN COMMISSION, s/a).
Conforme discutido por Chassot (2017), a ciência é (ainda) predominantemente masculina e persistem poucas dúvidas sobre a inexistência das capacidades intelectuais de homens e mulheres, o número de mulheres que se dedicam à ciência é significativamente menor que o de homens, mesmo com o crescente aumento nas últimas décadas. Marie Curie continua sendo uma das poucas mulheres citadas no campo científico, mas quantas outras mulheres tiveram seu nome e suas contribuições menosprezadas na história da ciência face à predominância masculina? Até onde você, mulher, iria pela ciência?
Para saber mais:
Sites para maiores informações sobre o projeto MSCA
- https://partiuintercambio.org/bolsas-de-estudo/marie-sklodowska-curie-actions-bolsas-de-pesquisa/
- https://ec.europa.eu/programmes/horizon2020/en/h2020-section/marie-sklodowska-curie-actions
Referências
Bibliográficas:
CHASSOT, Attico. A ciência é masculina? É, sim senhora! 8 ed. São Leopoldo: Ed. UNISINOS, 2017.
DEROSSI, Ingrid Nunes; FREITAS-REIS, Ivone. Uma educadora científica do século XIX e algumas questões sexistas por ela enfrentadas: Marie Curie superando preconceitos de gênero. Educación Química, vol. 30, n. 4, p. 89-97, 2019. Disponível em: http://www.scielo.org.mx/pdf/eq/v30n4/0187-893X-eq-30-04-89.pdf, acesso em 18 de jun. de 2021.
EUROPEAN COMMISSION. Ações Marie Sklodowska-Curie, Horizon, 2020. Disponível em: <https://ec.europa.eu/programmes/horizon2020/en/h2020-section/marie-sklodowska-curie-actions>. Acesso em: 15 de jun de 2021.
FARIAS, Robson. As mulheres e o Prêmio Nobel de Química. Revista Química Nova na Escola, 2001. Online. Disponível em: <http://qnesc.sbq.org.br/online/qnesc14/v14a06.pdf>. Acesso em: 14 de jun de 2021.
MARTINS, Roberto de Andrade. As primeiras investigações de Marie Curie sobre elementos radioativos. Revista da SBHC, n. 1, p. 29-41, 2003. Disponível em: https://www.sbhc.org.br/arquivo/download?ID_ARQUIVO=169, acesso em 18 de jun. de 2021.
NETFLIX. Disponível em: https://www.netflix.com/br/title/81168940, acesso em 18 de jun. de 2021.
NOBEL. Disponível em: <https://www.nobelprize.org/prizes/>, acesso em 18 de jun. de 2021.
SOARES, Thereza. Mulheres em Ciência e Tecnologia: ascensão limitada. Revista Química Nova, Recife, vol. 24, n. 2, p. 281-285, 2001. Disponível em: https://www.scielo.br/j/qn/a/nj3qnfJ8FNr79n9ZdncrVwF/?lang=pt&format=pdf, acesso em 18 de jun. de 2021.
Utilização
de imagens:
CAMPOS, Lorraine. Marie Curie. Mundo
Educação. Disponível em: <https://mundoeducacao.uol.com.br/quimica/marie-curie.htm>. Acesso em: 14 de jun de 2021.
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