#SocioQuímica - Caso Goiânia: O acidente radioativo afetou a saúde dos moradores próximos?
Caso Goiânia: O acidente radioativo afetou a saúde dos moradores próximos?
Escrito por: Thaise Cellão Marocchio
Em
13 de setembro de 1987, na cidade de Goiânia localizada no estado de Goiás,
houve um trágico acidente radiológico envolvendo o Césio-137.
O acidente
foi causado devido a ruptura de um aparelho radioterápico que se encontrava
abandonado em uma clínica médica que havia sido desativada, o equipamento
contava com um revestimento feito de chumbo, pois continha uma cápsula
detentora de material radioativo, O Césio-137, que é um isótopo radioativo
proveniente da fissão de átomos pesados como o Urânio-235, muito utilizado em
usinas que geram energia térmica à base de fissão nuclear (RODRIGUES et al 2017).
Devido a
condição na qual o aparelho de encontrava, moradores locais que possuíam como
renda a coleta de materiais recicláveis e que, obviamente não tinham
conhecimento de tal perigo, recolheram o equipamento e o levaram para um ferro
velho para que pudessem comercializá-lo.
Dessa
forma, o material em questão foi manipulado de forma incorreta visto que, os
moradores que entraram em contato com o mesmo, não tinham conhecimento da sua
presença e muito menos como manuseá-lo corretamente. Com a extração acidental
do Césio-137 o contato dos moradores com o material radioativo foi inevitável. Logo após a exposição a esse material,
alguns cidadãos passaram a apresentar problemas gastrointestinais, náuseas,
vômito, diarreia, fadiga, letargia, tontura, cefaleia, hipotensão, febre,
desidratação e dermatite também foram alguns dos sintomas. (OLIVEIRA, 2017).
Como
a exposição ao material era por meio do
Cloreto de Césio-137, que era um pó azul, a sua disseminação aconteceu por meio desse pó, por
conta desse fato, a exposição da população e animais domésticos à radiação se
deu de modo interno, ou seja, por meio da ingestão de alimentos e de água
contaminados pelo material, bem como pela contaminação por meio de vias
externas, isto é, devido o material que foi depositado no ambiente (IAEA,
1998). Médicos e enfermeiros que receberam os pacientes com essas queixas não estavam preparados e
nem eram capacitados para diagnosticar os
sintomas apresentados, atrasando então a notificação por meio das autoridades.
Esse
desastre foi identificado como nível cinco, que segundo a Escala Internacional
de Acidentes Nucleares é considerado um nível de exposição com consequências de
longo alcance a população, (IAEA, 1998) por isso os moradores tiveram que
abandonar seus pertences e suas casas foram demolidas, os materiais
contaminados foram transformados em lixo radioativo, muitos dos animais
expostos a radiação tiveram de ser sacrificados. Numa base que foi montada no
Estádio Olímpico do município um grande número de pessoas permaneceu sob
observação, algumas delas foram aconselhadas a deixar roupas, sapatos, bolsas,
relógios e demais pertences, seguiram então para banhos repentinos de mangueira
com água e sabão neutro para a descontaminação externa de seus corpos. Cerca de
112.800 cidadãos compareceram à base, no estádio, para que o processo de
descontaminação pudesse ser acompanhado, isso perdurou durante o período de 30
de setembro a 21 de dezembro de 1987. Dentre todas as pessoas que passaram pela
base montada, 249 precisaram de algum tipo de tratamento clínico, desses, 129
passaram a receber acompanhamento médico regular devido a contaminação com
contato com o pó colorido do césio. Desse grupo, 20
pessoas foram encaminhadas ao Hospital Geral de Goiânia por indicarem uma maior
contaminação, e 4 vieram a óbito, entre 30 de setembro e 21 de dezembro
de 1987.
Sendo
assim, cerca de 19 gramas do Césio-137 geraram cerca de 13.500 toneladas de
rejeitos radioativos, que foram transferidos
para um depósito construído a céu aberto na cidade de Abadia de Goiânia, além
do mais, houve o agravamento da economia, e um grande impacto psicológico e
sociológico a população local em meio
protestos e passeatas públicas. A economia foi afetada em todo o estado de
Goiás, os produtos agrícolas tiveram quedas significativas de vendas, mesmo que
produzidos em outros municípios, pois a divulgação do acontecido ocasionou
grande número de recusa dos produtos goianos.
Por volta do
mês de outubro a situação já havia sido controlada, o
interesse principal das equipes que ali trabalharam era focar no tratamento
consequente dos afetados e da melhoria da condição dos locais afetados, fazendo
planos a longo prazo e pesquisas adicionais, procedimentos foram escritos para
maior controle de acesso, qualidade dos equipamentos e para seleção de
pacientes para análises citogenéticos e de sangue (IAEA, 1988).
Uma pesquisa
realizada em 2013 utilizando o banco de dados do Sistema de Monitoramento dos
Radioacidentados (SISRAD), onde os moradores avaliaram sua própria qualidade de
vida, alguns disseram que era boa e outros que nem era boa, mas também não era
ruim. Já em outras questões, foi perguntado sobre a satisfação dos moradores em
relação a sua própria saúde, a maioria dos moradores se encontravam
insatisfeitos ou muito insatisfeitos. Os impactos negativos da exposição à
radiação foram referentes a sua qualidade de vida, permanecendo então a longo
tempo, os problemas físicos de saúde não se deram diretamente ao fato da
exposição à radiação, mas sim transitam entre o espaço psicológico e orgânico
dos atingidos.
Pelo fato do
equipamento de radioterapia não ter tido a destinação correta quando a clínica
foi fechada, o manuseio desse material acabou acontecendo por pessoas que não
tinham ideia das características daquele material. Assim podemos concluir que o
ocorrido poderia ter sido evitado. O acidente tornou-se um problema que gerou
impactos em larga escala, como discutimos.
Porém, vale ressaltar que os fenômenos relativos à radioatividade podem apresentar utilidades relevantes para a sociedade. Como exemplo, citamos que a radiação está presente nas radiografias, radioterapias, e até mesmo na esterilização de materiais, porém, os rejeitos obtidos devem sempre ser manuseados por profissionais, pois é necessário que se utilize os EPIs adequados para manuseá-los, como por exemplo avental, óculos, luvas, roupas especiais desenvolvidas justamente para realizar esse tipo de atividade, além é claro do uso da higiene pessoal. Caso essa contaminação por ventura ocorra, seja por meio de algum material contaminado, ou por meio de exposição direta, como ocorreu no caso de Goiânia, é necessário que se utilize um equipamento de capaz de medir o grau de exposição à radiação, o dosímetro é esse equipamento, ele é muito utilizado em clínicas radiológicas com o intuito de determinar a exposição recebida de radiação de um indivíduo por um certo período de tempo e que se possa determinar o tratamento apropriado.
Referências bibliográficas:
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OLIVEIRA, A. B. et al. Cultura do descuidado e vulnerabilidade a desastres: marcas do acidente radioativo com o césio-137 em Goiânia (Brasil). Research, Society And Developmen, [Goiânia], v. 9, n. 10, p. 2-22, 24 set. 2020. Disponível em: https://www.rsdjournal.org/index.php/rsd/article/view/6072/7562. Acesso em: 29 jun. 2021.
Saúde
em Desastres: o caso do acidente radioativo com o Césio-137. Direção de
Alexandre Oliveira (Ufrj). Rio de Janeiro: Gepesed, 2016. Son., color.
Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=hP-8D-YglDo.
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