#PIBIDFLIX - O que seria esse fenômeno da “chuva ácida” no filme Blade Runner?

 

O que seria esse fenômeno da “chuva ácida” no filme Blade Runner?

Escrito por: Higor Jean Ferreira Neves

Durante todo o filme Blade Runner - O caçador de andróides (1982), que se passa no ano de 2019 em Los Angeles, percebe-se uma garoa intermitente, que cessa e começa novamente. Essa garoa se refere ao fenômeno “chuva ácida” (também chamada de deposição ácida) ou conhecida como chuva negra, em alguns casos.

O que é, então, a chuva ácida?

Decorrente da poluição atmosférica, a chuva ácida é uma precipitação com pH (potencial hidrogeniônico) mais baixo que o normal, ou seja,  menor que  5,6 (DE OLIVEIRA, 2021). Além disso, “a chuva ácida é o resultado de um processo atmosférico de solubilização de gases e partículas com caráter ácido pelas  gotículas de água que formam as nuvens.” (CARDOSO, SILLINGARDI & CARDOSO, 2020, p.382). Essas nuvens ficam com um aumento da concentração de íons H⁺ dissolvidos nas gotículas de água, acarretando assim, a chuva ácida.

Os óxidos de enxofre e nitrogênio, provenientes da poluição industrial, automóveis, entre outros, são as principais fontes que contribuem para a chuva ácida, vinculados à acidificação de ecossistemas aquáticos e terrestres, mesmo distante da fonte de emissão. Essa acidificação pode causar prejuízos a materiais como nylon, borracha, metais, edifícios e obras de arte, devida a presença da disposição seca dos gases (SO₂ , O_3, H₂, O₂, etc.) e de material particulado na água de chuva, neblina e neve (WHO, 1994 apud. FORNARO, 2006). Na figura 1, está a representação de como se dá esse processo de formação da chuva ácida ou deposição ácida.

Figura 1: Processos e compostos químicos atmosféricos envolvidos na formação da deposição ácida.

Fonte: Fornaro (1991).

Diante disso, tem-se aprofundado os estudos sobre este fenômeno principalmente em regiões com mais atividades industriais, havendo também a preocupação com o aumento do efeito estufa, responsável pelo  aquecimento global, onde há presença dos mesmos gases formadores da chuva ácida (DE OLIVEIRA, 2019). Essa preocupação está relacionada com os principais efeitos acarretados pela chuva ácida ao meio ambiente e a vida humana, sendo eles o aumento da mortandade de peixes e outros animais, a destruição de florestas e vegetações, a poluição das águas, a corrosão de construções e o aparecimento de doenças associadas ao sistema respiratório e digestivo devido a contaminação de alimentos.

Mas como surgiu e quais as consequências da chuva ácida no planeta?

Durante a primeira metade do século XX observou-se um aumento significativo da acidez das águas de chuva em várias regiões do planeta. Essa acidez foi associada, à presença de ácidos fortes (sulfúrico e nítrico) e ácidos orgânicos (acético e fórmico), originados da oxidação de compostos de enxofre, nitrogênio e carbono, provenientes de processos industriais e da queima de combustíveis fósseis. As primeiras emissões começaram por volta de 1661 com os pioneiros da industrialização, França e Inglaterra, ocasionando danos para o ambiente e colocando em risco a saúde humana (FORNARO, 1991, 2006).

No filme Blade Runner, devido ao aumento populacional, desenvolvimento industrial e tecnológico exacerbado, o planeta sofreu com a grande concentração de poluição atmosférica, que acarretou a recorrência da chuva ácida. Atualmente, no contexto brasileiro, considerando a extensa área territorial com grande diversidade

de atividades industriais, exploração mineral, atividades agrícolas, somadas aos graves problemas causados pelas queimadas, a composição química de águas de chuva pode se tornar cada vez mais frequentes em regiões contendo alta concentração de poluentes.

Na região do Vale Parisi Cubatão - SP, por exemplo, localizada na Serra do mar, várias empresas se estabeleceram e criaram o primeiro polo de indústrias pesadas do Brasil, por volta de 1981 (FIGURA 2). Nesta época, a alta emissão de poluentes na cidade ocasionou, com mais frequência, a formação da chuva ácida e materiais particulados na atmosfera, causando malefícios à saúde da população e gerando impactos negativos nas perspectivas econômica e social. Por meio da implantação de medidas de controle, as emissões de poluentes chegaram a cair 90% e, com elas, os números de pessoas com doenças respiratórias também diminuíram (COSTA, 2017).

Figura 2: Vale Parisi Cubatão SP, conhecido como Vale da Morte no final da década de 1970 e início dos anos 1980.

Fonte: COSTA (2017).

Nesse sentido, sem medidas protetivas ou organizações para amenizar o alto consumo de combustíveis fósseis, principais agentes poluentes, o nosso futuro poderia ser como o retratado e, Blade Runner. Entretanto, a ONU e a WWF (World Wildlife Fund) precursoras em preservar a saúde humana e o meio ambiente procuram instalar medidas de preservação e conscientização à população dos riscos que as suas próprias ações acarretam, mostrando-os sobre a importância dos cuidados ao planeta, “casa” onde moramos.

Referências Bibliográficas:

CARDOSO,  R.  K.  O.  A.;  SLLINGARDI  H. M. T.; CARDOSO, A. A. Gases ácidos na atmosfera: fontes, transporte, deposição e suas consequências para o ambiente. Química Nova   na   Escola,   São   Paulo,   v.    42,   n.   4,   382-385,   nov.   2020.   Disponível  em:<http://qnesc.sbq.org.br/online/qnesc42_4/12-EEQ-64-19.pdf> Acesso em: 29 jul 2021.

COSTA, C. Mais de 3 décadas após ‘Vale da Morte’, Cubatão volta a lutar contra alta na poluição.        BBC                             News           Brasil.           2017.               Disponível    em:<https://www.bbc.com/portuguese/brasil-39204054>. Acesso em: 29 jul. 2021.

DE OLIVEIRA, L. J. D. G. Formação da Chuva Ácida: Uma Proposta Experimental para o ensino da Função Ácido em Química Inorgânica. RECIMA21 - Revista Científica Multidisciplinar - ISSN 2675-6218, [S. l.], v. 2, n. 4, p. e24206, 2021. DOI: 10.47820/recima21.v2i4.206. Disponível em: <http://recima21.com.br/index.php/recima21/article/view/206>.  Acesso em: 29 jul. 2021.

FORNARO, A. ÁGUAS DE CHUVA: CONCEITO E BREVE HISTÓRICO. HÁ CHUVA ÁCIDA NO BRASIL?. Revista USP, São Paulo, n. 70, p. 78-87, Julho/Agosto, 2006. Disponível em:<https://www.revistas.usp.br/revusp/article/view/13533>. Acesso em 14 jul 2021.

FORNARO, A. “Chuva Ácida em São Paulo: Caracterização Química de Amostras Integradas e Seqüenciais de Deposição Úmida”. Dissertação de mestrado. São Paulo, Universidade de São Paulo, Instituto de Química, 1991.

WHO. World Health Organization. “Air Pollution in the World’s Megacities –  A Report from the United Nations Envi - ronment Programme and the World Health Organization”, in Environment, 36(2), 1994, pp. 4-37 apud FORNARO, A. ÁGUAS DE CHUVA: CONCEITO E BREVE HISTÓRICO. HÁ CHUVA ÁCIDA NO BRASIL?. Revista USP,       São      Paulo,      n.     70,     p.     78-87,     Julho/Agosto,     2006.     Disponível     em:<https://www.revistas.usp.br/revusp/article/view/13533>. Acesso em 14 jul 2021.