#EducaQui - Pedagogia por projetos e o ensino de Química
Pedagogia por projetos e o ensino
de Química
Escrito por: Déborah Fernanda Leite Rossi
No
ensino de química, existem várias abordagens que podem ser utilizadas por
professores, e uma dessas abordagens é ensinar por meio de projetos. A
pedagogia por projetos, vai muito além de uma concepção transmissiva de
conhecimento ao estudante, pois visa o desenvolvimento estudantil, em que o
aluno passa a ter mais autonomia e responsabilidade. Essa pedagogia começou a
ser conhecida a partir do movimento, escola nova, que foi desenvolvido por
grandes pesquisadores como Claparède,
Decroly e outros e tal movimento possui concepções
diferentes do modelo escolar tradicional (WARTHA; GUZZI FILHO; JESUS, 2008). Na
Base Nacional Comum Curricular (BNCC), é considerado que “temas, assuntos ou
habilidades afins de diferentes componentes podem compor projetos nos quais
saberes se integrem, gerando experiências de aprendizagem amplas e complexas”
(BRASIL, 2017, p.196).
Assim,
a pedagogia por projetos permite que o aluno escolha determinado tema que tenha
ligação com aquilo proposto em grade curricular (BRASIL, 2013). Por exemplo,
alunos do terceiro ano do ensino médio podem escolher estudar cosméticos para
entender a química orgânica, e a partir desse tema desenvolver estudos de
maneira autônoma, pesquisando as estruturas, a nomenclatura, desenvolvendo e
resolvendo problemas (OLIVEIRA JÚNIOR; SANTOS, 2015). No ensino universitário,
também pode-se utilizar da pedagogia por projetos em que se tem um problema
gerador e a partir desse problema pode-se desencadear uma investigação para
chegar a uma conclusão.
A
pedagogia por projetos possibilita que o aluno estruture o seu trabalho,
analise, tome suas próprias decisões ao obter novos conhecimentos, planeje
construindo ideias, execute, avalie todo seu projeto e desempenho e se aproprie
dos seus resultados. Esse tipo de pedagogia procura alcançar objetivos como:
incentivar e despertar o interesse e a curiosidade do aprender, além de propor
mudanças na sociedade (SANTOS; LEAL, 2018). Além disso, pretende-se desenvolver
aptidão, sócio emocional e cognitiva, de forma que os estudantes possam
observar mais, trabalhar melhor em grupo, desenvolver melhor qualquer tipo de
problema, usar linguagens adequadas, compartilhar seus conhecimentos, pôr em
prática suas ideias, analisar com criticidade, saber argumentar, além de ter
responsabilidade (SANTOS; LEAL, 2018).
Santos
e Leal (2018), também discutem sobre o papel do professor que deve orientar
seus alunos em todo o percurso e motivá-los em suas pesquisas, estando sempre
ali para eventuais dúvidas e proposto a pesquisar e aprender cada vez mais
sobre temas que podem ou não ter relação com sua área e essa é uma via de mão
dupla, o professor e o aluno aprendem juntos, mas diferente das aulas
tradicionais, o aluno é o centro, e o professor faz parte do processo de
formação do estudante, estando ali para avaliar e ajudar quando necessário.
Apesar
de vários benefícios, Wartha, Guzzi Filho e Jesus (2008) afirmam que, não são
todos os estudantes que se familiarizam com essa perspectiva de ensino já que
alguns alunos não gostam de trabalhar em grupo, outros preferem o método
tradicional e alguns até pensam ser perda de tempo. No entanto, todos
desenvolvem pelo menos a capacidade de saber solucionar problemas do tipo, o
que já é importante. Tudo isso acontece porque o aluno deixa de ser dependente do
professor que por sinal tem um papel fundamental nesse ensino.
Talvez
essa dificuldade esteja relacionada ao fato desse tipo de proposta não ser
muito encontrada na literatura, especialmente quando se refere ao ensino da
química (WARTHA; GUZZI FILHO; JESUS, 2008), porém alguns estudos mostram
esforços feitos no sentido de implementar esse tipo de pedagogia, como de Silva
et al. (2008), que utilizaram o tema
água para discutir, com alunos da 3.ª série do Ensino Médio, o caminho das
águas na Região Metropolitana do Recife, desde seus mananciais até o
reaproveitamento dos esgotos. Todo o processo envolveu atividades de campo, de
laboratório e sistematização de conceitos químicos, organizados pelos alunos e
professores.
Na
universidade Estadual de Santa Cruz, foi desenvolvido um projeto, com alunos do
Curso de Licenciatura em Química, em que o tema era “Bacia do rio Cachoeira e
sua Região Estuarina", e a partir desse tema foi elaborada uma
problemática sobre a água. Cada grupo de alunos elaborou um projeto específico,
como análise de cromo nas águas do Rio Cachoeira; análise de resíduos totais,
resíduos fixos e determinação do oxigênio dissolvido na água do Rio Cachoeira;
efeitos da maresia sobre metais expostos nas praias de Ilhéus; entre outros
(WARTHA; GUZZI FILHO; JESUS, 2008) e com isso, foram tratados conceitos como
equilíbrio químico, solubilidade, ácidos, bases. O processo envolveu:
Figura 01: Processo de organização
dos projetos.
Fonte: Adaptado de Wartha, Guzzi Filho e Jesus (2008).
Tudo
isso levou a discussões que ajudaram na resolução do trabalho. Foi observado
que, após essa pedagogia aplicada, quando os alunos foram realizar a avaliação
tradicional, a maioria se saiu bem com os conceitos, e foi concluído que por
ser um problema local, ocorreu maior interação com a comunidade. Os autores,
afirmam que é possível ministrar projetos, sem abrir mão dos conteúdos da grade
curricular.
Na
escola Monsenhor Antônio de Pádua Santos (EMAPS), localizada na cidade de
Afogados da Ingazeira, no Estado de PE, essa pedagogia também foi implantada.
Com o tema “Alternativas de convivência com o semiárido", alunos do 3°
ano, da disciplina de química, estudaram sobre agrotóxicos, biofertilizantes e
agricultura orgânica. Com essas questões, os alunos fizeram pesquisas na
internet, com moradores, visualizaram vídeos e assim foram desenvolvendo seu
trabalho. A partir disso, o conteúdo que eles aprenderam que estão dentro da
grade de ensino foram: o estudo do carbono, funções orgânicas, fórmulas
químicas e nomenclatura. Segundo as autoras Almeida e Amaral (2005), como
resultado desse projeto, se deu uma forte interação entre escola e comunidade,
a inclusão dos alunos de zona rural que por algum motivo algumas vezes eram
excluídos e uma relação concreta entre conteúdo e realidade. Este trabalho
permitiu que alunos e professores discutissem bastante sobre sua região, sua
cultura e clima. Com esse método de ensino, a escola pode-se tornar local onde
são formados valores, comportamentos e atitudes que podem transformar a realidade
(ALMEIDA; AMARAL, 2005).
Para
finalizar, já foi observado que esse tipo de educação traz um conhecimento
maior ao estudante, o faz entender de forma que esse aprendizado pode ser
utilizado em vários problemas que podem ser encontrados ao decorrer da vida,
mas é necessário que o aluno esteja interessado em realizar, o professor
disposto a acompanhar o passo a passo do aluno, além de condições de trabalho,
físicas, pedagógicas e dessa maneira não há como o processo de aprendizado ser
um fracasso, afinal como cita Paulo Freire (2003, p.47) “Ensinar não é
transferir conhecimento, mas criar as possibilidades para a sua própria
produção ou a sua construção”.
Referências bibliográficas
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Construindo o conhecimento através de projetos de trabalho: uma experiência no
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