#TBChemistry - Papel de Joseph Priestley na identificação do “Ar desflogisticado”
Papel de Joseph Priestley na identificação do “Ar desflogisticado”
Escrito por: Lucas Pereira Mantena
Joseph Priestley (Figura 1) nasceu na Inglaterra em 1733 e seus pais queriam que ele atuasse como sacerdote de sua igreja. Era dissidente e por conta disso enfrentou uma série de dificuldades em sua vida acadêmica. Segundo Barreto (2015, p.35) “em 1752, Joseph Priestley matriculou-se em Daventry, uma instituição de ensino dissidente, onde começou a unir ideais racionais com os ensinamentos bíblicos”. Aprendeu várias línguas de forma autodidata e tinha interesse por filosofia, história, matemática e ciências naturais, o que o levou a ter uma formação teóloga voltada para o liberalismo e contribuiu para que refletisse sobre os dogmas impostos a ele durante sua vida. Participou da sociedade Lunar e também recebeu título de doutor em letras da Universidade de Edimburgo onde também foi eleito para a Royal Society (MAAR, 2008).
Figura 1: Joseph Priestley
Por volta de 1758 sua vida
científica teve início, pois se interessou por ciências, física e
química, sobretudo nos estudos sobre a eletricidade e sobre os gases. No
campo da química sua disposição nos estudos dessa ciência o levou a fazer experimentos
em cubas contendo mercúrio, permitindo-o coletar e estudar diferentes gases,
nos dizeres de Maar (2008) “os 10 ares de Priestley’’, dentre eles, os
atualmente conhecidos como óxido nítrico (NO), dióxido de nitrogênio (NO2),
óxido nitroso (N2O), ácido clorídrico (HCl), tetrafluoreto de
silício (SiF4), monóxido de carbono (CO), nitrogênio (N2),
dióxido de enxofre (SO2), amoníaco (NH3) e oxigênio (O2),
chamado por ele de “ar desflogisticado”.
Dentre esses gases, um dos mais
notáveis estudos estava centrado na coleta de gás oxigênio, por diferentes
métodos, mesmo não entendendo o que seria esse gás. Em 1774, Joseph Priestley por meio dos seus
experimentos conseguiu isolar o oxigênio, mas sem a compreensão desse feito,
inicialmente chamou o gás de “novo ar'' (OLIVEIRA, 2016). Esses experimentos foram feitos
inicialmente em duas fases.
A primeira foi utilizando uma lente
que focava a luz do sol em um único ponto, como indicado na Figura 2. Com isso
aqueceu um pó vermelho, hoje denominado óxido de mercúrio, dentro de uma cuba
com uma vela. Nesse sentido, Priestley percebeu que ao realizar esses passos, a
vela permanecia acesa, e o mesmo não ocorria sem a presença do pó. Então
Priestley justificou esse fato, considerando que o pó inserido era capaz de
retirar o flogístico (um tipo de gás ou fluido) produzido na queima da vela. No
entanto, a explicação para esse fato deve-se a produção do gás oxigênio, pela
decomposição do óxido de mercúrio, que mantinha a vela acesa por mais tempo.
Figura 2: Experimento de Joseph Priestley envolvendo óxido de mercúrio e a vela dentro de uma cuba
Fonte: Extraído de Seara da Ciência, s.d.
Em outro experimento, ele testou, colocando dentro da cuba, um rato e uma vela (Figura 3), mas com o tempo o animal não conseguia sobreviver, chegando à conclusão que o rato também produzia flogístico na respiração.
Figura 3: Experimento de Priestley envolvendo ratos e plantas
Fonte: Extraído de Ponto Biologia, 2017.
Assim, aqueceu o pó vermelho e percebeu que o rato sobrevivia. Também adicionou uma planta ao meio e viu que o rato conseguiu viver por mais tempo, concluindo que as plantas também absorviam o flogístico do meio. Segundo Oliveira,
Priestley logo descobriu que seu “novo ar” poderia manter um rato vivo por um tempo duas vezes mais longo que o mesmo volume de ar comum. Ele também descobriu a relação entre a combustão, a respiração animal e as plantas. Observou que o ar que uma vela queimava, até apagar espontaneamente, era capaz de suportar a combustão novamente e de manter ratos vivos depois de plantas terem crescido naquele ar exaurido por algum tempo. Hoje é conhecido como o processo da fotossíntese, que usa a energia solar, combina com o dióxido de carbono e água, e produz matéria orgânica (OLIVEIRA, 2016, p.48-49).
Joseph Priestley observou com esses dois experimentos que o novo ar era mais puro, melhor e com um odor mais agradável que o ar comum. Segundo Maar (2008) e Brock (1992), Priestley usou do conhecimentos da teoria do flogístico para fazer a caracterização da sua nova descoberta e chegar a uma ideia de que a vela que queima libera flogístico e a chama no interior da cuba se apaga pois o ambiente fica saturado de flogístico, com o “novo ar’’ a chama dentro da cuba fica mais intensa, pois o mesmo possui menos flogístico do que o ar comum, sendo esse o ar atmosférico, e com isso passou a chamar o novo ar de “ar desflogisticado’’ (oxigênio):
Ar comum – flogístico = ar desflogisticado (oxigênio)
O ar podendo receber uma quantidade maior de flogístico por ter pouco do mesmo, ou seja, o ar que sobra após toda a reação é um “ar flogisticado” (nitrogênio).
Ar comum + flogístico = ar flogisticado (nitrogênio)
De acordo com Brock (1992), outros cientistas já haviam isolado diferentes gases, mas Priestley trouxe, a partir de seus estudos e manipulação, a perfeição para obtenção de diferentes gases, dentre eles o oxigênio, daí sua grande contribuição para a química e para a compreensão de fenômenos como a combustão, respiração e a fotossíntese, mesmo não dispondo desses fundamentos e teorias que atualmente são aceitas pela ciência e utilizando-se do flogístico para justificar seus experimentos. Além disso, seus estudos abriram caminhos para que esses fenômenos fossem compreendidos por outros cientistas, como Lavoisier. Isso nos mostra que toda a história, do desenvolvimento da ciência, é encarada como um processo complexo, em que muitos cientistas, como Joseph Priestley, contribuíram para o desdobramento de áreas da ciências e que conceitos sofreram e sofrem alterações em prol do desenvolvimento da ciência e compreensão da natureza.
Referências Bibliográficas
BARRETO, F. F. Joseph Priestley. Cadernos de Tradução, Porto Alegre, n. 36, 2015, p. 1-116.
BROCK, W. H. The fontana history of Chemistry. Londres: Fontana Press, 1992.
MAAR, J. H. História da Química: primeira parte dos primórdios a Lavoisier. Florianópolis: Conceito Editorial, 2008.
OLIVEIRA, L. M. Produto Educacional: sequências didáticas para o ensino de teorias atômicas e elementos químicos. 2016. 62f. Produto Educacional (Mestre em Ensino de Ciências Humanas, Sociais e da Natureza) - Programa de Pós-Graduação em Ensino de Ciências Humanas, Sociais e da Natureza, Universidade Tecnológica Federal do Paraná, UTFPR, Londrina, 2016,
PONTO BIOLOGIA. Como descobriram que as plantas fazem fotossíntese? Disponível em: https://pontobiologia.com.br/descobriram-plantas-fazem-fotossintese/. Acesso em: 14/10/2021.
SEARA DA CIÊNCIA. A descoberta do oxigênio. As glórias e atribulações dos descobridores desse gás indispensável. Disponível em: https://seara.ufc.br/pt/secoes-especiais-de-ciencia-e-tecnologia/secoes-especiais-quimica/a-descoberta-do-oxigenio/. Acesso em: 14/10/2021.
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